Antônio Augusto de Ávila Castro
Texto lido durante a "Ordem do Dia" do ato cívico em comemoração ao aniversário de emancipação político-administrativa de Garça em 5 de maio de 2007.
O aniversário de Garça nem sempre foi comemorado em 5 de maio. Aliás, somente na década de 50, através dos prefeitos Rafael Paes de Barros e Manoel Joaquim Fernandes, é que foi inserido no calendário do município o aniversário da cidade, para ser festejado no dia 4 de outubro.
E por que 4 de outubro? É que neste dia, no ano de 1924, Labieno da Costa Machado, que já andava por estas paragens desde 1916, tinha em mãos o planejamento da cidade que seria implantada numa gleba de 80 alqueires. No dia 4 de outubro de 1924, Labieno derrubou simbolicamente a primeira árvore da mata virgem que cobria todo o atual bairro de Labienópolis, dando assim por fundada a cidade de Garça.
Assistiram ao ato seus colaboradores Odilon Ferraz, Pedro Anastásio, Adolfo Campanha, José Carlos Machado, José Caetano Ferrari e o engenheiro Hengel, assim como uma turma de 30 camaradas chefiados pelo empreiteiro Eduardo José Gonçalves.
Até o ano de 1965, portanto, comemorava-se o aniversário da cidade em 4 de outubro. Só que em 25 de novembro de 1966, o Dr. João Sampaio, que havia sido deputado estadual e um autêntico desbravador desta região do Estado, implantando várias fazendas na região Noroeste, como a Chantembled e depois a Fazenda São João do Inhema e de uma importante cidade, Londrina, recebeu um convite encaminhado pelo então prefeito Pedro Valentim Fernandes e pelo presidente da Câmara, Carlos Alceu de Carvalho Junqueira, para assistir as solenidades do Dia do Município.
João Sampaio lamentou o atraso do correio na entrega da correspondência, mas não deixou de fazer uma observação bastante válida. Como conhecia Garça desde seus primórdios, afirmou que, por uma convenção oficial, os municípios não comemoravam sua data magna no dia da fundação, pois vários deles apresentavam controvérsia sobre a data exata do início do povoado. Por isso, o correto seria comemorar o aniversário da cidade no dia da instalação do município. E o de Garça, do qual ele participou como relator do projeto na Assembléia Legislativa, aprovado em 27 de dezembro de 1928, era 5 de maio. Logo, essa seria a data correta para se celebrar o aniversário da cidade.
Tanto o prefeito Pedrinho, como o presidente da Câmara, Carlos Alceu, agiram rapidamente a através de uma lei aprovada e sancionada apenas no dia 3 de maio ? cinco dias após o recebimento da carta do Dr. João Sampaio ? institui-se o dia 5 de maio como o Dia do Município. Só que não houve tempo, nesse primeiro ano de vigência da nova data, para se organizar nenhuma festividade. O primeiro dia do município, comemorado em 5 de maio do ano de 1967, passou em brancas nuvens, sendo observado apenas o feriado municipal. Mas, a partir de 1968, as festas retornaram em grande estilo, como ocorre até os dias atuais.
Mas vamos continuar nossa viagem por esse autêntico túnel do tempo para relembrar agora como aconteceu a solenidade de instalação do município, no memorável 5 de maio de 1929. Naqueles tempos difíceis a população da zona rural era nitidamente superior à da zona urbana, numa proporção de dois por um. Assim sendo, o comércio tinha grande movimentação nos finais de semana. As vendas funcionavam até às 19 ou 20 horas aos sábados e aos domingos até por volta das 12 horas para atender a clientela rural.
Lógico que o dia escolhido para a instalação do município só poderia ser um domingo e no período da tarde.
Fomos buscar nos arquivos da Comarca de Garça um exemplar do jornal que narrava os acontecimentos ocorridos naquela tarde de domingo, 5 de maio de 1929.
Dizia o jornal que o povo garcense correu em massa para assistir à instalação da Câmara Municipal e posse de seus vereadores. A ato revestiu-se de muita simplicidade. Reunida a assembléia, assumiu a presidência o Dr. José Correa de Meira, juiz de Direito de Piratininga, que convidou o Dr. Hilmar Machado de Oliveira e o Dr. Francisco Silveira Silva, promotor público, para com ele formarem a Mesa que deveria dirigir os trabalhos. Pela ordem de votação, os vereadores eleitos em 14 de abril de 1929 foram sendo chamados: Antonio Augusto de Andrade Nogueira, Adalberto de Carvalho Neves, Salviano Pereira de Andrade, Francisco Mariano de Barros, Moisés Carvalho Junqueira e Prudente de Morais Sampaio, que era filho do pioneiro João Sampaio, que tomaram posse, ocupando os respectivos lugares na sala de sessões.
Após o ato de posse, levantou-se o Juiz de Direito e, com eloqüência, discorreu sobre a solenidade, prendendo a atenção de todos. Manifestou a grande satisfação que sentia ao dar posse aos primeiros vereadores, com a instalação da primeira Câmara Municipal. Elogiou também o nome ?Garça?, verdadeiro símbolo de beleza e elegância.
Falou a seguir o Dr. Carlos de Freitas, que trouxe as felicitações da sociedade de Piratininga aos garcenses. O vereador Adalbero de carvalho Neves levantou-se e produziu eloqüente discurso abordando os interesses mais urgentes do município. Logo após falou o Sr. Manoel Mota, seguido pelo Dr. Joaquim Novaes Banitz, que representava a Câmara Municipal de Marília.
Usaram ainda da palavra os doutores José Maria Assumpção, jornalista e vereador, Prudente Sampaio e novamente Joaquim Banitz, que fez um brinde de honra ao Dr. Washington Luiz, então presidente da República.
Por último falou o senhor Antonio Carvalho Barros, um dos responsáveis pela fundação de Garça, que fez saudação ao presidente do Estado, Dr. Júlio Prestes. Terminados os discursos, foi aberta a primeira sessão da Câmara Municipal, sendo a presidência de honra dos trabalhos concedida ao Dr. José Correa Meira, juiz de Direito da Comarca de Piratininga. A ele coube a missão de dirigir a eleição para a escolha das primeiras autoridades garcenses.
Naquela época, a eleição do prefeito era procedida por via indireta, ou seja, os vereadores é que escolhiam entre eles quem ocuparia o cargo de prefeito. E os resultados desta primeira votação da edilidade garcense apontaram Antonio Augusto de Andrade Nogueira, como prefeito, Dr. Prudente de Moraes Sampaio, como presidente da Câmara, e Francisco Mariano de Barros, como vice-presidente da Câmara.
Terminada a votação, todos os eleitos foram declarados empossados e os trabalhos da sessão da instalação do município foram encerrados, ao som de variadas peças ? como assinalava o jornal ? executadas pela gloriosa Corporação Musical Santa Cecília, enquanto era servida cerveja a todos os presentes.
Mas como era a Garça de 1929, quando ganhou status de município? Em setembro de 1929, o prefeito Antonio Augusto de Andrade Nogueira encaminhava à Câmara um relatório de suas atividades nestes primeiros meses à frente do município.
E dentre outras coisas ele apresentava uma estatística sobre a situação econômica do município. Afirmava que Garça possuía 12,5 milhões de cafeeiros plantados nas 243 propriedades agrícolas que abrangiam uma população de 11.275 pessoas, distribuídas em 1.536 casas. As mulheres eram maioria na zona rural: 3.788 mulheres moravam nas fazendas, contra 3.275 homens e mais 4.223 crianças, sendo 2.110 do sexo masculino e 2.113 do feminino.
Já a cidade possuía 522 casas apenas, habitadas por 2.081 pessoas: 775 homens e 547 mulheres e mais 759 crianças. O grosso da população, como se observa, estava radicada na zona rural.
Outros números que constavam do relatório do prefeito Nogueira e que servem para recompor o cenário de Garça de 1929: a cidade tinha 128 automóveis e caminhões particulares e 115 automóveis e caminhões de aluguel. Possuía ainda 48 armazéns de secos e molhados, nove hotéis, duas tipografias, 13 bares, seis farmácias, dez botequins, uma fábrica de gelo, nove pensões, duas agências de automóveis (uma revenda Ford e outra Chevrolet), 11 postos de gasolina, seis açougues, três serrarias, uma torrefação de café, dois clubes dançantes, sete máquinas de beneficiar café, 12 oficinas mecânicas, nove salões de barbeiro, três sapatarias, seis médicos, três dentistas e apenas um banco, o Banco de São Paulo, que estava localizado onde hoje se encontra a Associação Comercial e Industrial de Garça.
Como se observa, já era uma cidade em franca expansão e possuía todos os equipamentos urbanos que lhe garantiram um rápido desenvolvimento.